Há alguns dias o Marcos Nobre fez a seguinte pergunta no Facebook:

Uma curiosidade dos processos de aceleração: como os fundadores se sustentam para dar dedicação integral ao desenvolvimento da startup? As aceleradoras costumam entrar com um capital que ajuda a segurar as pontas?

Vamos repassar item a item para a resposta ser completa.

O que é uma aceleradora?

Pense em um investidor-anjo. Ele aporta os primeiros milhares que sua startup precisa para sair do zero, ou para completar um produto mínimo que pode ser testado junto aos clientes. Isso significa que você tem um sócio (ou 3 ou 4, no caso de um grupo de angels) tentando dar insights externos e ajudar sua empresa a crescer com networking e experiência. Uma aceleradora trabalha com essa mesma premissa, mas de forma um pouco diferente e mais sistematizada:

1. o capital aportado é quase simbólico, e respeita um valuation pré-fixado
2. traz um programa de aceleração relativamente formatado com tempo bem determinado, com insights externos de mentores de mercado (dedicando pouco tempo a cada startup de forma voluntária)
3. a validação do produto e modelo de negócio é feita através de boas práticas bem definidas de marketing, design, business development e o mínimo de estrutura legal e financeira
4. foco forte no follow-on, ou seja, em encontrar rapidamente um investidor que aporte o próximo round e valorize mais a empresa. Em grande parte dos casos, um demo-day que facilite que isso aconteça.

O que o empreendedor precisa fazer é pesar se os itens 2 e 3 justificam o custo dos itens 1 e 4. Em outras palavras, se o benefício que a aceleradora traz vale o equity que ele precisa dar em troca, e se ele quer se submeter às regras e valuation (às vezes inflacionado) que a aceleradora propõe para conseguir um novo investidor.

O que o empreendedor sente falta é que existe muito pouca informação sobre as aceleradoras em geral. Isso é comum porque no mercado de venture capital, as regras são implícitas, mudam muito rapidamente (para acompanhar o mercado) e às vezes acabam sendo mais favoráveis a quem investe do que ao empreendedor. O risco é alto, portanto não espere nada diferente.

O que a aceleradora brasileira sente falta é que a liquidez do mercado é baixa, dificultando muito que ela faça dinheiro. Por isso, a conta de uma aceleradora não fecha – em outras palavras, ela não tem receita porque não cobra por seus serviços (quem cobra faz capacitação, não aceleração). Se ela não tem receita, precisa ser bancada com dinheiro dos sócios ou tem que atuar como um mini-fundo captando dinheiro de investidores que a mantenham.

E repare na situação curiosa… Quando uma aceleradora precisa levantar capital para sua sobrevivência, ela passa pelo mesmo problema que o empreendedor: se provar viável com pouquíssimas evidências de que dará certo. Além disso, demora de 4 a 5 anos para essa conta começar a se pagar (se é que se paga).

Por que você não quer uma aceleradora?

Você não quer uma aceleradora porque se você é bom de verdade, seu negócio já está gerando receita e você (se quiser) está batendo na porta de um fundo bem maior. Aceleradoras são para projetos early-early-stage ou para empreendedores iniciantes que ainda precisam aprender a tocarem seus negócios, ou a encontrarem um modelo que torne suas startups boas de verdade.

Você também não quer uma aceleradora se você está precisando de capital para subsistência. O capital aportado pela aceleradora é simbólico, e não vai pagar suas contas. Isso piora quando você precisa se mudar para uma outra cidade, caso o programa de aceleração exija isso.

Como decidir se procuro uma aceleradora?

Responda às seguintes perguntas:

1. Eu consigo tocar meu projeto sem me preocupar com salário? Caso não consiga, esqueça aceleradora e trabalhe no 3o. turno (madrugadas, fins de semana) até que ele comece a trazer o mínimo de receita (ou encontre um angel que tope subsidiar você).
2. Eu tenho um time que trabalha bem, temos uma visão clara de onde queremos chegar e precisamos somente de apoio e experiência? Caso não seja isso, esqueça aceleradora. Elas esperam que empreendedores já sejam bons, e que a aceleradora os ajude a alavancar a startup – não viabiliza-la.
3. Eu estou disposto a vender parte do meu negócio por um valuation baixo? Se não está, esqueça aceleradora mas também descubra se o que você entende como negócio é o mesmo que um investidor ou aceleradora entenderiam.

Se você respondeu sim às três perguntas acima, você pode procurar uma aceleradora. Saber qual delas procurar é uma questão de comparar os seus objetivos como empreendedor com os objetivos da aceleradora. Comparar resultados das diferentes aceleradoras só é útil nessa situação. Por exemplo, a 21212 segue o modelo americano e consegue levantar um segundo investimento mais rápido, enquanto a Aceleradora foca em criar um modelo de negócio sustentável que faça a startup pular uma etapa de investimento e conseguir um valuation bem melhor lá na frente (normalmente, porque se sustenta com receita própria). O Crowdtest é um bom exemplo, caminhando para R$ 1 milhão em receita em menos de 2 anos de sua criação. Você pode ler mais sobre eles nessa matéria.

Finalizando, não é muito útil comparar aceleradoras brasileiras com americanas. Assim como os empreendedores americanos que são agressivos e dispõe de muito capital no mercado, as aceleradoras de lá trabalham em um contexto bem diferente do nosso (seja aprovado nelas e vá morar no Vale, se você estiver realmente engajado nisso). Além disso, a não ser em casos bem específicos, aceleradoras não são comparáveis com programas de capacitação ou fundos – se você tem uma startup, não tem uma franquia, indústria ou mineradora, e justamente por isso não comparamos seu modelo de negócio com o deles.