No artigo anterior, vimos que toda startup começa a partir de uma ideia. Mesmo assim, há uma grande chance que essa ideia mude várias vezes até que a startup dê certo. Veja algumas dicas que podem ajudar nesse primeiro momento, e exemplos de situações em que elas se aplicam.

Dica 1: o valor de uma ideia é próximo de zero

Muitos empreendedores descobrem oportunidades interessantes para montarem um novo negócio, e por isso tentam manter sua ideia o mais secreta possível. Quando alguém pergunta sobre ela, a resposta é "Ainda não posso contar. Se eu contar, qualquer um pode copiá-la e eu perderei minha vantagem". Aprenda então a lição número um: quanto menos você falar sobre sua ideia, menores suas chances de sucesso.

Assim como você, dez ou mais pessoas em vários cantos do mundo podem ter a mesma ideia – e ao mesmo tempo. O que importa são três coisas: os passos a serem seguidos a partir dela, se você é o empreendedor certo para realizá-la, e quais os conceitos chave para torná-la escalável. Por isso, tente primeiro testar sua ideia com o máximo de pessoas próximas a você. Depois, procure indicações de pessoas que entendam do mercado ou necessidade que sua ideia se propõe a resolver. Explique também às pessoas que serão seus futuros clientes. Quanto mais feedback você tiver, mais desenvolverá sua ideia original.

E sim, existe o risco de alguém copiar ou roubar sua ideia – o que importa é como você gerencia esse risco. O filme "A Rede Social", que será lançado no Brasil em dezembro, traz um exemplo interessante. Trata-se de uma ficção baseada na criação do Facebook, e retrata que Mark Zuckerberg – hoje, o bilionário mais jovem do mundo – foi o programador chamado por outros empreendedores para criar uma rede social de estudantes. O filme alega que Zuckerberg quebrou o acordo verbal com os idealizadores, melhorou muito a ideia e passou a desenvolvê-la em proveito próprio. Se esses acontecimentos forem reais, ele foi no mínimo anti-ético – mas duas coisas ficam claras: que os empreendedores originais não tiveram uma visão tão boa quanto Zuckerberg sobre o problema, e que se esqueceram de assinar um contrato para impedir que o CEO do atual Facebook usasse a ideia original em seu favor. O filme mostra claramente que para uma startup, a execução é tudo.

Dica 2: defina seu objetivo – empresa ou startup

Após definir sua ideia inicial e ter feedback sobre ela, é necessário entender se ela se transformará em uma micro-empresa ou uma startup. Veja bem: não há nada de errado em se ter um lifestyle-business, ou seja, uma empresa que irá dar a você e sua família com um excelente padrão de vida por vários anos. Mas se você aprendeu bem o que é uma startup, precisa de algo que dará um retorno dez, cem, mil ou mais vezes maior do que foi investido. Por isso, pense bem se você está empreendendo pelas razões certas e com suas expectativas alinhadas.

Dica 3: fuja do efeito manada

A pior hora para se comprar ações é quando todos estão comprando, e isso pode fazer o preço da ação subir em razão da alta demanda. Assim como na bolsa de valores, fuja do efeito manada: você pode até começar uma pequena empresa copiando uma ideia promissora que já apareceu em vários lugares… mas para começar uma startup, essa é a pior estratégia possível. Há alguns anos, o efeito manada criou milhares de redes sociais de nicho – para adolescentes, advogados, entre outros – e todas deram errado. Em 2010, o mesmo comportamento gerou dezenas de sites de compra coletiva, e poucos irão dominar esse mercado.

Pense da seguinte forma: o foco da sua startup deve ser lançar a tendência, e não copiá-la. Caso decida copiar algo existente, lembre-se que você poderá criar um lifestyle-business e não uma startup. Você está atrás de inovação e um mercado gigante, e não pequenas diferenciações de coisas que já existem.

Dica 4: quanto mais simples, melhor

Grande parte dos empreendedores brasileiros tentando montar startups hoje – sejam eles pessoas sem formação acadêmica, físicos, engenheiros químicos, PhDs em farmacêutica ou desenvolvedores de software – vão atrás de ideias complexas para maximizarem suas chances de inovação. Infelizmente, quanto mais complexa a ideia, maior o custo necessário para executá-la e operá-la no futuro. Muitas pessoas fizeram milhões (mesmo que em negócios não sustentáveis) a partir de algo muito simples com custos muito baixos – veja o exemplo do Inglês Alex Tew, que aos 21 anos ganhou US$ 1 milhão com uma simples página na internet (artigo original em Inglês). Esse não é um bom exemplo de startup, mas mostra claramente como uma ideia simples pode fazer diferença.

Seus futuros clientes querem uma solução barata e rápida para seus problemas, não uma solução sofisticada. Isso pode ser diferente ao elaborar uma nova vacina ou um novo tipo de cola orgânica, mas é verdade em grande parte do tempo. Além disso, é bem mais fácil elaborar uma ideia complexa do que ter um estalo simples que pode mudar o mundo. Para entender melhor esse tema e conhecer duas abordagens atuais e interessantes sobre inovação, leia os livros "Innovatrix – Inovação Para Não Gênios" de Clemente Nóbrega e Adriano Lima, e "A Estratégia do Oceano Azul", de W. Chan Kim e Renée Mauborgne.

Dica 5: faça algo que gosta

Essa talvez seja a pior notícia: grande parte das startups de sucesso vieram de soluções muito próximas à realidade do empreendedor, e não porque eles desejavam milhões. Mesmo percebendo o potencial da ideia e até tentando torná-la um negócio global, muitos simplesmente não conseguiam tirá-la da cabeça e precisavam colocá-la em prática. A analogia mais próxima no mundo corporativo seria encontrar o emprego dos seus sonhos: você faz o que gosta, e ainda é pago por isso. Portanto, pense sim no pote do ouro ao fim do arco-íris, mas não se esqueça que a chave é uma solução para problemas mal resolvidos, ou que cria novos mercados.

Veja o exemplo do Organizze, um site brasileiro de gestão de finanças pessoais. Os empreendedores largaram seus empregos para se dedicarem a um projeto em que acreditam, e esperam conseguir sucesso com ele. Trata-se de um negócio global e escalável? Não, pois há concorrentes em outros países e poucos brasileiros com cultura de gerenciarem seu dinheiro. Após um ano oferecendo seu software gratuitamente a dezenas de milhares de usuários, o Organizze lançou um plano pago com mensalidade bem baixa e já preparam um plano para empresas. Isso significa que estão criando somente um lifestyle-business, ou que transformarão o projeto original em algo maior no futuro? Como a startup ainda está à procura de um modelo definitivo, ainda não é possível afirmar… mas as chances seriam bem menores se os empreendedores não estivessem focados em algo que gostam muito.

Dica 6: confronte sua ideia a todo o tempo

Aprenda a questionar suas próprias ideias e sua capacidade de executá-las. Um livro interessante sobre esse assunto é  “The new business road test”, do Prof. John Mullins da London Business School, que apresenta um método para investigar uma ideia nos estágios mais iniciais. Veja também algumas perguntas sugeridas por Richard Dorf e Thomas Byers, especialistas em empreendedorismo e detecção de oportunidades para novos negócios:

– O time de empreendedores tem a capacidade de colocar a ideia em prática?

– O produto possui um diferencial forte a ponto do cliente pagar por ele?

– O time é capaz de atrair os recursos proporcionais ao tamanho da oportunidade?

– O negócio traz uma boa relação entre risco e retorno?

– O time está comprometido a executar a ideia do início ao fim?

Parece fácil à primeira vista, mas não é. Observar cada uma das dicas e responder bem às perguntas acima não é garantia para se conseguir investimento, mas sim uma ajuda para definir mais claramente o que sua startup poderá se tornar. Por isso, no próximo artigo falaremos sobre como transformar uma ideia em um modelo de negócio, e como isso é imprescindível para buscar investimento.

Esse post é uma transcrição da coluna semanal da Aceleradora no Portal Exame.