Existe muita conversa e polêmica sobre o que é ou não inovação. Claro que isso já é discutidomuito tempo em outras áreas diferentes de tecnologia… Mas o que você realmente precisa saber é:

  • Inovação é a aplicação com sucesso de uma nova ideia. A inovação pode ser radical ou incremental.
  • A radical, também conhecida como disruptiva, abre novos mercados, quebrando paradigmas estabelecidos e criando/mudando todo um setor de consumo.
  • A incremental revê, combina e adapta processos ou produtos já existentes com novas ideias para reduzir os custos, aumentar a produtividade ou melhorar margens de lucro.

Um bom exemplo de inovação radical recente no mundo de tecnologia é o conjunto de algoritmos para page rank do Google, que leva em conta uma abordagem totalmente disruptiva para definir a relevância na busca. Na era pré-Google, cada mecanismo de busca reinava por dois anos até ser substituído por um levemente mais eficiente… Desde 1999, o Google domina este mercado sem um competidor que tome sua liderança.

Um bom exemplo de inovação incremental é o Adwords, também do Google. Inserir anúncios relevantes em cada busca através de um leilão reverso já era uma ideia bastante conhecida e usada pelo Goto.com, que recebeu muitas críticas por misturar ads e resultados de busca em uma mesma listagem. O que o Google fez foi inovar no processo: separar os anúncios à direita, sem misturá-los aos resultados da busca, e usar a sua escalada de audiência para divulgar o produto. Quando seu estoque de páginas estava ficando pequeno para as metas de faturamento, uma nova proposta foi criada: o Adsense. Usando páginas de toda a Internet para veicular o estoque de anúncios – e não somente resultados de busca – o Google passou a compartilhar sua receita com sites relevantes e passou a faturar ainda mais.

Mas não se preocupe, porque detectar a inovação é difícil e seguir suas pistas é uma arte extremamente subjetiva.

Adaptação é Inovação?

Estamos pisando em terras brasileiras. Como têm sido as coisas por aqui?

O Fábio Seixas soube abrasileirar muito bem o Threadless quando lançou a Camiseteria. A Netmovies previu que o modelo de entrega via correio do Netflix poderia não funcionar no Brasil, e criou uma logística de entrega e recebimento com motoboys. A Moip criou alternativas de débito em conta e transferência bancária, e tenta apresentar vantagens no prazo de recebimento frente ao PagSeguro… sendo que as duas startups apostam na adaptação do Paypal para o Brasil.

Esses são exemplos excelentes de adaptação e aculturamento de um projeto estrangeiro, mas podemos considerá-los inovação?

Vejamos o exemplo do Júlio Vasconcellos, que recentemente criou o Peixe Urbano com adaptações a partir do Groupon. Na cola do Peixe Urbano tem mais um brasileiro, o CityBest… Quer entender como funciona o modelo de negócios? Veja os vídeos do CityBest e Groupon abaixo (não há vídeo do Peixe Urbano disponível na Internet):





O fato de serem similares ao Groupon desmerece os dois projetos brasileiros? Claro que não. Junte a essa lista o antigo Rec6 e o Digg, ou o OLX e o Craiglist… Existe inovação? Não de forma aparente. Há adaptações, pequenos retoques no modelo de negócios, ou o fato de levar o produto a um nicho que ainda o desconhece. Certo?

Receita ou Inovação?

Claro que é importante incentivar a inovação: a probabilidade de uma inovação radical ser escalável e gerar muito retorno é maior… mesmo assim, vimos que muitas inovações incrementais – ou mesmo adaptações – podem trazer um excelente retorno para seus investidores e empreendedores. Então o que querem os VCs brasileiros: um bom prêmio sobre o investimento, ou financiar a inovação?

Hoje, deveriam querer uma coisa diferente: os VCs deveriam perseguir uma carteira mais diluída e com tickets bem menores para investimento, antes de reclamarem que não têm projetos escaláveis com ótimo retorno no futuro. Porque cá entre nós, parece que os angels não vão evoluir na velocidade que os VCs esperam… Para isso, os VCs poderiam criar braços de atuação menos promissora, mas aumentando seu risco para tentar fomentar um ecossistema ainda em formação. V em VC é de venture, e os investidores brasileiros têm duas escolhas: ou vão investir em outros países, ou precisam ajudar a fomentar seu próprio mercado.

Vou repetir um exemplo já usado no blog: o Videolog. Ele surgiu alguns meses antes do Youtube, só que no Brasil. Caso não tivesse estabelecido parcerias para sediar sua infra desde o nascimento – Embratel, Oi, UOL – o Videolog teria morrido. Os VCs brasileiros perderam a chance de investir no Videolog antes do Google pagar US$ 1,65 bi no Youtube… Ou melhor: vamos supor que o twitter tivesse nascido no Brasil. Algum angel brasileiro teria investido para manter sua operação inicial? Deixo para você mesmo dar essa resposta.

Startups no Brasil Startups nos EUA

Conclusões

Todo VC quer mesmo um Buscapé… mas esse é nosso único grande case em 10 anos. O fato é que nesse passo, teremos passado décadas até existirem boas oportunidades de investimento para alimentar o crescente número de fundos de seed capital que abrirão suas portas em 2010.

No último dia 20/4, tivemos opiniões interessantes sobre esse tema divulgadas no twitter devido ao evento do #GVCepe:

  • Eric Acher da Monashees citou que “nos EUA, há toda uma cadeia financeira formada e experiente em startups de tecnologia” e que “não adianta apenas grandes fundos de venture capital e private equity, angel investors precisam qualificar empreendedores”. Respondendo a uma pergunta sobre avaliação de projetos, disse “faltam empreendedores e cases”.
  • Francisco Jardim do Fundo Criatec disse que “o israelense nasce pensando em empreender globalmente, pois é um mercado local pequeno cercado de grandes mercados hostis”.

Será que antes de falarmos em inovação, não precisamos investir nesse gap cultural e resolver a falta de maturidade generalizada do empreendedor brasileiro em criar modelos de negócio simples, escaláveis e que possam dominar o mundo? Será que conseguimos chegar lá? Será que dizer “não temos um mercado de angel investors” e esperar anos até que ele brote será mesmo uma boa? Existem boas oportunidades aqui e agora, não vale a pena lapidá-las e ajudá-las a ganharem o mundo?

Com certeza as idéias aqui não são um incentivo à cópia, como alguns entenderam do post anterior. Caso você ache as ponderações válidas, que tal tirarmos conclusões sobre esse tema juntos? Para direcionar a discussão, compartilhe sua opinião respondendo a alguma das três perguntas abaixo:

  1. Você considera que adaptar algo de fora é inovação?
  2. Quais outras startups de tecnologia brasileiras você considera adaptações diretas de serviços estrangeiros?
  3. Quais startups de tecnologia brasileiras você considera realmente inovadoras?

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