Depois de muitas horas de digitação e discussão e poucas horas de sono, acabou o prazo de submissão da proposta detalhada do Prime.
Para quem não sabe, o Prime é um programa da FINEP que tenta apoiar startups de até 2 anos com R$ 120 mil. São 17 incubadoras em todo o Brasil recrutando por volta de 1200 empresas em uma seleção apertada – e caso aprovada, a startup deve gastar o orçamento durante um ano em coisas pré-determinadas pela FINEP:
- Apoio ao empreendedor: até R$ 40 mil como pro-labore de apoio ao empreendedor, ou contratação de um especialista técnico via CLT
- Gestor de Negócios: até R$ 40 mil como contratação de um gestor de negócios via CLT, trabalhando 20 horas por semana para gerenciar as contas da empresa e intermediar a conversa com a FINEP
- Consultoria de Mercado: até R$ 30 mil limitados a um único contrato de consultoria (pessoa jurídica) envolvendo pesquisas, plano de marketing e outros serviços atrelados à adequação do produto ao mercado
- Consultoria de Gestão: até R$ 30 mil para até 3 contratos de consultoria (pessoa jurídica) em aspectos importantes do negócio, como planejamento, RH, jurídico, finanças ou outra área de apoio.
Dentro dessas opções, cada empresa deveria criar uma composição de até R$ 120 mil.
As vantagens do programa:
- São sempre bem-vindas iniciativas que tentam manter uma startup viva, ou fazê-la crescer.
- O programa é democrático e estende o apoio financeiro a qualquer um – bastaria ter criado a empresa formalmente e atendido a um conjunto mínimo de regras.
- O dinheiro tem custo zero e é não-reembolsável (exceto em casos onde não gasto, ou for gasto fora das rubricas permitidas).
- Os empreendedores pré-aprovados passaram por um treinamento de 4 dias para tirar dúvidas sobre o programa e verem conceitos básicos sobre Marketing e Finanças.
- A submissão dos planos foi um verdadeiro vestibular, e quem passou teve que se esforçar para não fazer nada errada.
- A inclusão de um gestor de negócios minimamente experiente em administração financeira – e que também irá passar por um treinamento – garante um mínimo de controle na auditoria de contas da FINEP.
- É fácil ver como a FINEP se esforçou para criar um edital abrangente e que realmente fizesse diferença para a empresa aprovada.
As desvantagens do Prime:
- Em grande parte dos casos, R$ 40 mil serão pagos como impostos diretos da CLT (ou seja, o Governo morde de volta um bom pedaço do que doou).
- O formato das rubricas (limitação de contratos, como e com quem deveriam ser gastos) irá forçar as empresas a arrumarem soluções “criativas” para flexibilizarem os gastos, o que pode desvirtuar o intuito original da consultoria de mercado ou de gestão.
- Uma vez detalhadas as regras precisas ao final de julho, as empresas tiveram aproximadamente 30 dias para recrutar gestores de negócio e obter propostas de consultorias que as atendessem.
- Uma vez liberada o acesso à proposta detalhada, foram menos de 30 dias para completar o formulário. A falta de base dos empreendedores em Finanças provavelmente vai dar trabalho aos avaliadores…
- Na ânsia de ganhar dinheiro, dezenas de consultorias em todo o Brasil foram criadas na última hora para atender ao programa e fizeram spam de todas as formas possíveis. Provavelmente conseguiram muitos clientes, mas isso pode se comprovar um dinheiro mal gasto pelo empreendedor no futuro.
- Muitas consultorias existentes cresceram o olho no programa, e criaram pacotes ruins para atender um volume muito grande de empresas. Por exemplo, um pacote de R$ 15 mil que envolve uma pesquisa de mercado feita pelo telefone, mas somente 4 horas de interação com o empreendedor ao longo do ano.
- O formulário de proposta detalhada provavelmente não traduz a essência dos projetos, para bem ou para mal (por exemplo, projetos bons ficarão de fora por falta de experiência, projetos ruins terão entrado por excesso de esperteza).
- Um bug complicado no sistema de propostas pode atrapalhar a avaliação (clicar em “Atualizar” fazia tudo certo, mas “Atualizar e voltar” errava as somas nas planilhas financeiras).
Mesmo parecendo ter mais desvantagens que vantagens, cá entre nós – são R$ 120 mil… Isso é praticamente um aporte de capital semente early-stage, sem ter que vender nenhum percentual ao investidor.
Parabéns à FINEP por mais essa iniciativa, e aos empreendedores candidatos pelo esforço. Agora é aguardar os resultados da seleção, e também o PRIME 2010.
9 Comments on "Programa Prime da FINEP – prós e contras"
Tiago Gouvêa
29/08/2009Também percebi um pouco disso tudo.
Para a empresa receber 120.000 e investir em um gestor de peso, e em um especilista técnico também de peso, terá que desembolsar pelo ao menos uns 25.000 em provisões.
Ou seja, para a empresa receber o PRIME e crescer, precisá de um (outro) bom aporte financeiro.
Mas... de qualquer forma, é ótimo! :)
Sorte e sucesso a todos os participantes!
Mateus Bicalho
30/08/2009De fato, deve ser encarado como uma ajuda de custo. Pelos mesmos argumentos que o @Tiago Gouvea disse acima, dificilmente o empreendedor não desembolsará dinheiro do seu bolso.
Mateus Bicalho
30/08/2009De fato, deve ser encarado como uma ajuda de custo. Pelos mesmos argumentos que o @Tiago Gouvea disse acima, dificilmente o empreendedor não desembolsará dinheiro do seu bolso.
Domingos Kamonga
01/09/2009Nós, Kamonga, consultoria de desenvolvimento empresarial e de gestão de pessoas, pudemos auxiliar uma das start-ups concorrentes. Nessa experiência pudemos customizar 100% da demanda do cliente. Ou seja, com muito menos, e abaixo da totalidade do budget, conseguimos montar uma solução de treinamento e assessoria que realmente atendesse necessidades bastante específicas, e dentro do escopo exigido FINEP. O mais interessante foi que só ficamos sabendo que era FINEP, depois de termos sido "escolhidos" pelo cliente. Isto quer dizer que o cliente fez uma 'cotação'... e optou pela solução melhor adequada a ele.
Sucesso aos empreednedores!
Domingos Kamonga
01/09/2009Nós, Kamonga, consultoria de desenvolvimento empresarial e de gestão de pessoas, pudemos auxiliar uma das start-ups concorrentes. Nessa experiência pudemos customizar 100% da demanda do cliente. Ou seja, com muito menos, e abaixo da totalidade do budget, conseguimos montar uma solução de treinamento e assessoria que realmente atendesse necessidades bastante específicas, e dentro do escopo exigido FINEP. O mais interessante foi que só ficamos sabendo que era FINEP, depois de termos sido "escolhidos" pelo cliente. Isto quer dizer que o cliente fez uma 'cotação'... e optou pela solução melhor adequada a ele.
Sucesso aos empreednedores!
Osvaldo Santana Neto
03/09/2009O sistema de submissão de proposta detalhada era uma afronta à usabilidade.
Já não bastasse a quantidade de informações necessárias que precisou ser levantada, a quantidade de planejamento que o projeto demandou ainda tivemos que nos 'bater' contra um sistema que era pior que um editor de textos simples.
No meu caso, por exemplo, já tenho alguma experiência como empreendedor. Já sei fazer um planejamento financeiro básico (já fiz vários treinamentos e li muitos livros sobre o assunto) e já temos uma empresa com clientes e projetos funcionando.
Neste cenário foi muito difícil trabalhar no projeto detalhado. Muita informação solicitada no plano dependia de informações que seriam fornecidas pelas consultorias contratadas com o dinheiro do programa. Problema do ovo e da galinha.
O programa também 'força' alguns tipos de gastos que não seriam feitos no estágio da empresa onde estamos. Exemplo: gastar salário com o salário de um gestor de negócios tendo um profissional com esse perfil já entre os meus sócios.
Esse dinheiro seria muito mais útil se fosse flexibilizado a ponto de permitir que fosse usado na melhoria de salário de outro empreendedor técnico.
Esse tipo de 'amarração' desses programas só servem pra complicar uma coisa que é simples (imagine quanto 'malabarismo' será feito com esse dinheiro para que ele possa ser usado para atender a necessidade de cada empreendedor).
Acho que a coisa deveria ser mais 'solta': 120mil que podem ser usados para pró-labore de 1 sócio, com contratações CLT ou com contratação de consultorias de áreas X, Y e Z.
Pronto. Só isso.
Na proposta seria então detalhado como esse dinheiro seria usado para X e não para Y.
Exemplo: "Como temos um gestor financeiro como sócio utilizaremos X mil reais na contratação de uma pesquisa Y pois não foi possível encontrar informações Z sobre o mercado."
Quanto ao formulário: mandar um .doc com os tópicos teria sido muito melhor do que aquilo que fizeram.
Em resumo: espero que meu projeto seja aprovado, mas confesso que cogitei abandonar minha participação no PRIME durante o período de elaboração do projeto detalhado. Atender aos clientes da empresa, pesquisar todos os dados solicitados, elaborar os planejamentos necessários e digitá-los naquele sistema ruim me fez pensar se eu não conseguiria esse mesmo valor atendendo à alguns de meus clientes.
Só não abandonei porque já havia investido muito tempo (e dinheiro) nisso.
Em resumo: a premissa do programa é *excelente* e louvável. Mas pra ele realmente ajudar esses empresários nascentes ele deveria ser mais "leve". Uma empresa nascente é tão frágil que toda essa papelada pode matá-la antes mesmo dela receber os recursos.
O que falta ao PRIME é: flexibilidade.
Devemos também considerar que é apenas a primeira edição do programa. Com o passar dos anos é provável que muito disso melhore.
Osvaldo Santana Neto
03/09/2009O sistema de submissão de proposta detalhada era uma afronta à usabilidade.
Já não bastasse a quantidade de informações necessárias que precisou ser levantada, a quantidade de planejamento que o projeto demandou ainda tivemos que nos 'bater' contra um sistema que era pior que um editor de textos simples.
No meu caso, por exemplo, já tenho alguma experiência como empreendedor. Já sei fazer um planejamento financeiro básico (já fiz vários treinamentos e li muitos livros sobre o assunto) e já temos uma empresa com clientes e projetos funcionando.
Neste cenário foi muito difícil trabalhar no projeto detalhado. Muita informação solicitada no plano dependia de informações que seriam fornecidas pelas consultorias contratadas com o dinheiro do programa. Problema do ovo e da galinha.
O programa também 'força' alguns tipos de gastos que não seriam feitos no estágio da empresa onde estamos. Exemplo: gastar salário com o salário de um gestor de negócios tendo um profissional com esse perfil já entre os meus sócios.
Esse dinheiro seria muito mais útil se fosse flexibilizado a ponto de permitir que fosse usado na melhoria de salário de outro empreendedor técnico.
Esse tipo de 'amarração' desses programas só servem pra complicar uma coisa que é simples (imagine quanto 'malabarismo' será feito com esse dinheiro para que ele possa ser usado para atender a necessidade de cada empreendedor).
Acho que a coisa deveria ser mais 'solta': 120mil que podem ser usados para pró-labore de 1 sócio, com contratações CLT ou com contratação de consultorias de áreas X, Y e Z.
Pronto. Só isso.
Na proposta seria então detalhado como esse dinheiro seria usado para X e não para Y.
Exemplo: "Como temos um gestor financeiro como sócio utilizaremos X mil reais na contratação de uma pesquisa Y pois não foi possível encontrar informações Z sobre o mercado."
Quanto ao formulário: mandar um .doc com os tópicos teria sido muito melhor do que aquilo que fizeram.
Em resumo: espero que meu projeto seja aprovado, mas confesso que cogitei abandonar minha participação no PRIME durante o período de elaboração do projeto detalhado. Atender aos clientes da empresa, pesquisar todos os dados solicitados, elaborar os planejamentos necessários e digitá-los naquele sistema ruim me fez pensar se eu não conseguiria esse mesmo valor atendendo à alguns de meus clientes.
Só não abandonei porque já havia investido muito tempo (e dinheiro) nisso.
Em resumo: a premissa do programa é *excelente* e louvável. Mas pra ele realmente ajudar esses empresários nascentes ele deveria ser mais "leve". Uma empresa nascente é tão frágil que toda essa papelada pode matá-la antes mesmo dela receber os recursos.
O que falta ao PRIME é: flexibilidade.
Devemos também considerar que é apenas a primeira edição do programa. Com o passar dos anos é provável que muito disso melhore.
Flávio
28/09/2009Para a versão 1.0 do programa acho que ele está razoável, onde da primeira edição será extraído o conhecimento para saber a melhor solução é flexibilizar para aumentar acesso e chance de sucesso, ou aumentar o controle em função dos picaretas que aparecerem.
Quanto as reclamações das dificuldades da proposta detalhada eu apenas abstrai o fato que é governo e tratei como se atendesse a um cliente com suas exigências. Isto é, além dos meus clientes o Finep passou a ser mais um onde tenho um custo de venda do projeto.
Bom, desta forma consegui passar para a terceira fase sem traumas e que venha o Prime 2.0.
Flávio
28/09/2009Para a versão 1.0 do programa acho que ele está razoável, onde da primeira edição será extraído o conhecimento para saber a melhor solução é flexibilizar para aumentar acesso e chance de sucesso, ou aumentar o controle em função dos picaretas que aparecerem.
Quanto as reclamações das dificuldades da proposta detalhada eu apenas abstrai o fato que é governo e tratei como se atendesse a um cliente com suas exigências. Isto é, além dos meus clientes o Finep passou a ser mais um onde tenho um custo de venda do projeto.
Bom, desta forma consegui passar para a terceira fase sem traumas e que venha o Prime 2.0.